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  • Foto do escritorObras de Kardec

Amélie Boudet atuante na sucessão de Kardec - Parte 1: prestação de contas da SA (1869/1870)

Atualizado: 28 de mai. de 2021

Prestação de contas do primeiro ano da Sociedade Anônima (1869/1870) assinada por Amélie e A. Guilbert - mais uma fonte primária inédita


Introdução


As nossas publicações datadas de 10 de novembro de 2020 apresentaram o "Inventaire Général de l'année 1873 - Composé de tous les ouvrages de fonds et d'assortiments, brochés et reliés, existant dans le magazins de la Société anonyme et fait par Madame Allan Kardec - commissaire de surveillance et M. Leymarie - administrateur".


Naquele documento inédito, que trata do Inventário Geral do final do ano civil de 1873/1872 da Sociedade Anônima, encontramos Amélie Boudet - cujo nome figura na capa do documento - como integrante do quadro de Auditores de Fiscalização daquele ano, juntamente com P. G. Leymarie como administrador. O inventário é composto de 47 páginas e relaciona todo o estoque existente na Sociedade Anônima ao fim do ano social de 1872/1873.


Uma informação confirmada por aquele documento foi o mês e ano de impressão da 4ª edição de O Céu e O Inferno: fevereiro de 1869.


Recapitulando o que vimos naquela oportunidade: o Auditor de Fiscalização tinha como função o controle das operações da sociedade, além de ser responsável pela elaboração do relatório resumido do inventário. E, como observamos, Amélie Boudet foi uma das pessoas que ocupou este cargo no ano civil de 1872/1873.


As funções dos Auditores de Fiscalização eram reguladas pelos artigos 32, 33 e 34 da Lei de 24 de julho de 1867 - "commissaire de surveillance", que definiam que os auditores eram os responsáveis por reportar à assembleia geral do ano seguinte a situação da sociedade, sobre o balanço e sobre as contas apresentadas pelos administradores.


Retrospectiva: A sucessão de Kardec para Amélie e a continudade das atividades


A repentina morte de Kardec, em 31/03/1869, ocorreu em plena desocupação do imóvel na Passage Sainte-Anne. Era um momento de muitas mudanças, pois essa desocupação envolvia tanto a transferência da residência dos Kardec para a Villa Ségur, quanto da sede da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE) e do Bureau da Revista Espírita (RE) para a Rue de Lille. Além disso, no dia seguinte, estavam previstas a inauguração da Librairie Spirite e a eleição do novo presidente da SPEE.


Com a ausência do mestre, outras mudanças se tornaram necessárias e diversas ações foram tomadas de forma tempestiva para garantir a continuidade do trabalho em prol do Espiritismo, dentre as quais destacamos:

  • Em 09/04/1869 o novo presidente e o novo bureau da SPEE já estavam definidos, em reunião conduzida pelo vice presidente, Sr. Levent. Por decisão unânime, foi eleito o Sr. Malet e mantida a mesma comissão (Revista Espírita de maio de 1869).

  • No dia 16/04/1869, duas semanas depois do enterro de Kardec, a viúva Amélie Boudet, estava diante da SPEE fazendo um pronunciamento e comunicando a todos as suas decisões, demonstrando-se devotada à doutrina e ativa na sucessão desde o princípio, conforme descrito no artigo "Caixa Geral do Espiritismo - Decisão da Senhora Allan Kardec" (Revista Espírita de maio de 1869).

  • Em apenas três meses, Amélie, com o auxílio de um grupo de espíritas escolhidos entre os mais conceituados em Espiritismo, ou que tinham sido designados especialmente pelo Sr. Allan Kardec para o auxiliarem em seu trabalho cotidiano, definiu o que seria possível de implementar imediatamente para seguir a estratégia proposta por Kardec na Constituição transitória do Espiritismo, e fundou a Sociedade anônima com participações e capital variável do fundo geral e central do Espiritismo (Revista Espírita de agosto de 1869).

Conforme os artigos 14 e 15 do Estatuto da Sociedade Anônima, datado de 22 de julho de 1869, que regula as funções dos Auditores de Fiscalização (conhecidos como membros do Conselho Fiscal), dois membros eram nomeados anualmente em Assembleia Geral para efetuar a fiscalização nas operações da sociedade. Além disso, analisavam a situação passiva e ativa da empresa, podendo convocar a Assembleia Geral da SA, possuindo, inclusive, voz deliberativa.


Na nossa publicação de 10/11/2020 também informamos que Amélie foi nomeada Auditora de Fiscalização para o primeiro exercício da SA:

"Conforme podemos verificar na ata da segunda Assembleia Geral, realizada em 13 de agosto de 1869. Amélie Boudet é nomeada Auditora de Fiscalização, juntamente com Gustave Achille Guilbert, para os anos civis de 1869 e 1870. O que demonstra que além de acionista majoritária, ela exercia a fiscalização das operações que eram desenvolvidas pela Sociedade Anônima, mantendo as diretrizes propostas no relato da sessão da Sociedade de Paris de 16 de abril de 1869, publicada na Revista Espírita de maio daquele ano.".

Ao assumir esta função, caberia a eles elaborar um relatório ao final do exercício.


Mais um documento inédito: Rapport présenté en conformité de l'article 16 des statuts par le comité de surveillance à l'Assemblée générale du 10 juillet 1870


O CSI do Espiritismo localizou na Bibliothèque Sainte-Geneviève, e está apresentando este relatório que ajudará a entender um pouco mais do período pós-desencarne de Allan Kardec: o "Rapport présenté en conformité de l'article 16 des statuts par le comité de surveillance à l'Assemblée générale du 10 juillet 1870" - (vide fotos)



Junto com este documento inédito trazemos uma breve análise.


Assinado pela viúva Rivail - Amélie Boudet - e A. Guilbert, o "Relatório apresentado na forma do art. 16 do estatuto social pela comissão de fiscalização à Assembleia Geral de 10 de julho de 1870" é o documento exigido por lei e previsto no artigo 16 do Estatuto da Sociedade Anônima, que devia ser elaborado ao final do exercício fiscal de 1869/1870 (período de 1º de abril a 31 de março, conforme previsão estatutária em seu artigo 25), pelo Conselho Fiscal, através dos “commissaires de surveillance” - auditores de fiscalização.



O documento impresso pela Typ. Rouge frères, Dunon et Fresné contém as análises das auditorias efetuadas pelo conselho fiscal, nas pessoas de Amélie Boudet e A. Guilbert, dos valores inscritos no balanço da Sociedade Anônima e do inventário, relativo ao findo exercício social de 1869/1870. O documento apresenta a informação que, após sério exame dos Livros da Empresa, os auditores de fiscalização têm a certeza de que os números contábeis são da mais rigorosa exatidão, e apresentam o resultado por escrito destas análises no referido relatório, referendando o lucro líquido daquele ano no valor de 2.263 fr. e 44 c.



No relatório também é informado que o fundo de reserva - utilizado para a divulgação da doutrina espírita - totalizou, em 31 de março de 1870, o valor de 4.235 fr. e 30 c., e que, pelo lucro daquele exercício, não só encontrava-se intacto, mas aumentado.

O início do relatório traz um agradecimento especial de Amélie e Guilbert - componentes do Conselho Fiscal - por terem tido a honra de serem escolhidos na assembleia de 13 de agosto de 1869, para a missão de fiscalização, exigida por lei, para a verificação da natureza e dos valores das operações efetuadas pelos administradores da Sociedade Anônima.


O Conselho Fiscal, então, propõe a aprovação do inventário, do balanço e das contas apresentadas pelos administradores para o exercício de 1869/1870, bem como que seja reconhecido o lucro líquido no valor de 2.263 fr. e 44c.



Na Revista Espírita de agosto de 1870 – páginas 238 e 239 do original em francês – temos o artigo “Société anonyme du Spiritisme - Première assemblée générale”. Nele encontramos que, após efetuada a leitura do relatório dos auditores de fiscalização sobre as operações da Société anonyme do exercício financeiro de 1869-1870, todos os presentes saudaram suas conclusões sobre a situação moral e o propósito da Sociedade, com sinais gerais de aprovação.


Vemos no artigo que os membros da Assembleia, querendo demonstrar de forma contundente que o trabalho realizado pela Sociedade era essencialmente desinteressado e puramente destinado a garantir o futuro da filosofia espírita, espontaneamente decidiram que os benefícios que lhes eram devidos na distribuição dos lucros, relativos ao exercício civil que se encerrava, deveriam ser revertidos ao fundo de reserva da Sociedade. Foi solicitada, por meio do senhor Levent, a inclusão deste assunto na Revista Espírita, considerando que esta publicação seria a melhor resposta às calúnias que a Sociedade Anônima sofreu desde o seu início.

Os membros entenderam que a publicidade dada aos seus atos seria um meio de fortalecer ainda mais o futuro da obra fundada por Allan Kardec, de acordo com a decisão tomada pela Assembleia. O relatório dos auditores fiscais deveria ser enviado aos assinantes da Revista Espírita.


Conclusão


Este documento inédito mostra o envolvimento e a atuação plena da senhora Allan Kardec desde o primeiro momento, visto que, depois dela ter participado efetivamente da criação da Sociedade Anônima, e se tornado acionista majoritária, ela aparece trabalhando na Sociedade no ano civil de 1869/1870, como auditora de fiscalização no Conselho Fiscal; participação essa que confirmamos ter continuado, em 1873, quando apresentamos o Registro de Inventário do ano civil de 1872/1873.


Por meio de mais esta fonte primária, podemos verificar que Amélie Boudet era uma mulher à frente de seu tempo, assim como foi o seu marido, acompanhando e fiscalizando as operações dos administradores da Sociedade que ajudou a criar para dar continuidade à difusão da Doutrina Espírita, e, ainda, realizando auditorias, produzindo relatórios de uma forma profissional, e dando sugestões para a correta utilização do fundo de reserva na função para que foi criado: a divulgação da doutrina espírita e das obras do Espiritismo.


Podemos concluir, também, que todos os acionistas - terminado o ano civil de 1869-1870 – estavam totalmente comprometidos com a divulgação do Espiritismo, pois todos reverteram a parcela dos lucros que tinham direito naquele ano para o fundo de reserva - destinado à divulgação da Doutrina Espírita. Além disso, podemos verificar que os participantes da assembleia geral saudaram o relatório e os trabalhos desenvolvidos por Amélie Boudet e pelo senhor Guilbert, como membros do Conselho Fiscal da Sociedade Anônima.


Nas Partes 2 e 3, complementamos a análise deste documento.


Esta pesquisa foi realizada em conjunto pelo museu AKOL - AllanKardec.online, o CSI do Espiritismo e o site www.ObrasdeKardec.com.br, sempre se desenvolvendo de forma colaborativa e sem personalismos.



Tradução do documento completo



Referências:

1. https://www.retronews.fr/.../1-aout-1870/1829/3285373/6;

2. LES SOCIÉTÉS - En Commandite par Actions, Anonymes et Coopératives - Par J. Bédarride - Tome Deuxième - https://odyssee.univ-amu.fr/.../RES-22980_Bedarride_Loi...;

3. Revistas Espíritas de 1869 e 1870;

4. https://catalogue.bsg.univ-paris3.fr/.../alma991013912770...

5. https://archive.org/details/BSG_DELTA59512_1FA/mode/2up;

6. https://www.allankardec.online/search?q=rapport.


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