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Amélie Boudet atuante na sucessão de Kardec - Parte 2: prestação de contas da SA (1869/1870)

Atualizado: 28 de mai. de 2021

Prestação de contas do primeiro ano da Sociedade Anônima (1869/1870) assinada por Amélie e A. Guilbert - mais uma fonte primária inédita


Introdução


Em 15 de dezembro de 2020 apresentamos o documento inédito « Rapport présenté en conformité de l'article 16 des statuts par le comité de surveillance à l'Assemblée générale du 10 juillet 1870 » que mostra o envolvimento e a atuação plena da senhora Allan Kardec desde o primeiro momento pós-desencarne do mestre (veja Parte 1), visto que, depois dela ter participado efetivamente da criação da Sociedade Anônima e se tornado acionista majoritária, ela aparece trabalhando na Sociedade no ano civil de 1869/1870, como auditora de fiscalização no Conselho Fiscal; (Continua na Parte 3).



Confirmamos que o trabalho continuou, em 1873, quando apresentamos, em 10 de novembro de 2020, o Registro de Inventário do ano civil de 1872/1873.


Essa fonte primária, apresentada na parte I deste post, contribui para observarmos que Amélie Boudet era uma mulher à frente de seu tempo, assim como foi o seu marido, acompanhando e fiscalizando as operações dos administradores da Sociedade que ajudou a criar para dar continuidade à difusão da Doutrina Espírita, e, ainda, realizando auditorias e produzindo relatórios de uma forma profissional.


Observamos também que – na assembleia geral da Sociedade Anônima realizada ao término do ano civil de 1869-1870 – todos os acionistas manifestaram seu desinteresse pessoal e total comprometimento com a divulgação do Espiritismo, já que decidiram reverter a parcela dos lucros que tinham direito naquele ano para o fundo de reserva, destinado à divulgação da Doutrina Espírita, e solicitaram ao senhor Levent que publicasse o ocorrido, dando transparência às suas ações e à sua intenção manifesta. Além disso, verificamos que os participantes dessa assembleia saudaram o relatório e os trabalhos desenvolvidos por Amélie Boudet e pelo senhor Guilbert, como membros do Conselho Fiscal. É por essas atitudes que podemos hoje, 150 anos depois, ter ciência sobre o que de fato estava acontecendo na condução da Sociedade Anônima, narrado em fonte primária.


Relembramos também as informações importantes reveladas por outra fonte primária relacionada, apresentada em 10/11/2020 – Registro de Inventário de 1873 – em que Amélie continua seu trabalho de fiscalização da Sociedade Anônima:

  • O mês e ano de impressão da 4ª edição de O Céu e O Inferno como sendo em fevereiro de 1869;

  • A 5ª e a 6ª edições de A Gênese como já estando impressas em 1869, reafirmando a existência de duas impressões da 5ª edição, fato anteriormente demonstrado com o exemplar encontrado no início deste ano na biblioteca de Neuchâtel na Suíça, e cujo período de impressão/publicação foi refinado para entre o final de 1868 e o início de 1869 no artigo: Uma revisão na História da 5a edição de A Gênese Parte I, publicado recentemente no JEE;


Detalhamento da análise do Relatório: Amélie e Guilbert fizeram uma fiscalização minuciosa nas operações da Sociedade Anônima no primeiro exercício fiscal e demonstraram compromisso com a boa gestão da instituição.


Vamos analisar mais algumas informações importantes existentes neste relatório que mostram como Amélie Boudet, além de sucessora material do mestre Allan Kardec após o seu desencarne, “herdou” mais alguns conhecimentos – provavelmente adquiridos do professor Rivail, que também havia trabalhado com contabilidade em algumas empresas para o reforço do orçamento do casal – para exercer com propriedade seu papel como fiscal. Também mostram a preocupação dos fiscais e administradores em gerir adequadamente a Sociedade Anônima dentro dos propósitos da propagação da Doutrina e no interesse geral do Espiritismo.


No relatório apresentado pelo Conselho Fiscal (Amélie Boudet e A. Guilbert), encontramos as seguintes informações:


A. Relativas ao controle e fiscalização minuciosos, com explicações para todos os achados:


Como contabilidade é um assunto árido para quem não tem familiaridade, apresentamos os registros feitos no relatório, seguidos de explicações do seu significado e relevância.

“Após um sério exame dos livros da Sociedade, e tendo a certeza de que os valores inscritos no balanço de contas e no inventário, bem como no balanço em anexo, são da mais rigorosa exatidão, temos a honra de vos apresentar o resultado do nosso trabalho.” 

Este trecho do relatório indica que Amélie Boudet possuía conhecimentos na área contábil e de análises de balanços;

“Verificamos, senhores, através do quadro que representa o saldo de contas e o resumo do inventário, no balanço de 31 de março último, que o primeiro exercício social de nossa Sociedade apresenta um lucro líquido de 2.263 fr. 44 c. Este valor foi aumentado em uma soma de 1.000 fr. aproximadamente, resultante do saldo entre as assinaturas da Revista Espírita, arrecadadas pela Sociedade, de 13 de agosto a 31 de dezembro do ano de 1869, e o custo do serviço das assinaturas registradas antes de 13 de agosto. Embora essas assinaturas não tenham sido recebidas pela nossa Sociedade, tivemos que arcar com os custos. Embora esta despesa seja de natureza absolutamente excepcional e para além dos custos obrigatórios da Sociedade, sugerimos que exonere a vossa administração de qualquer responsabilidade a este respeito, considerando-a regular.” 

Este trecho nos mostra que parte do lucro líquido da Sociedade Anônima era relativa à receita (subtraída do custo) de assinaturas contratadas da Revista Espírita, e que, embora estas assinaturas ainda não tivessem sido recebidas pela SA antes do fechamento do seu período operacional, esta já tinha arcado com os custos do serviço de assinaturas. O parecer dos auditores isenta os administradores de qualquer responsabilidade sobre este fato de já ter gastado sem ainda ter recebido. Podemos verificar também a continuidade pela SA das operações relativas à Revista Espírita.

“Embora as mercadorias entradas no estoque constem no quadro com o valor de 32.753,55 francos, e as mercadorias saídas do estoque constem no quadro como 11.883,58 francos, deve-se assinalar que estes números não coincidem com os registrados nos livros de entrada e saída de mercadorias em 31 de março de 1870, e que apenas entraram 25.472,12 francos, e que as saídas para a livraria, calculadas ao custo, chegam a 4.602,15 francos. Mas, como poderá ser verificado pelo saldo, o resultado das mercadorias em estoque, em 31 de março de 1870, não é alterado, e no balanço das duas operações, você encontrará de fato a soma de 20.869,97 francos, como mercadorias restantes em estoque no final do primeiro ano fiscal. A diferença decorre do fato de, devido a erros nos artigos lançados no jornal, em particular nas contas do comerciante de papel e do impressor, terem sido necessários estornos de lançamentos para regularizar a situação destas várias contas; esta é a explicação para essas diferenças entre o Razão e os livros de entrada e saída de mercadorias.” 

Aqui verificamos novamente a familiaridade de Amélie Boudet com os livros contábeis e fiscais e os procedimentos associados, já que este trecho apresenta a justificativa para as diferenças apontadas entre dois livros importantes de registro e controle das operações de uma instituição (o livro Razão e os livros de entrada e saída de mercadorias). Os fiscais concluem que o saldo da conta “mercadorias em estoque” não é afetado pelas diferenças oriundas de erros de lançamento, pois essas diferenças foram adequadamente corrigidas com outros lançamentos contábeis necessários (estornos), deixando o saldo correto para o exercício seguinte.


B. Relativos ao controle de estoque e à data em que a Sociedade Anônima iniciou a fabricação de mercadorias:


No trecho:

“Este valor de 25.472 fr. 12 c. de mercadorias entradas até 31 de março último [1870], inclui: 
1 ° As mercadorias trazidas pela Sra. Rivail, na Sociedade 
............................................... 11.000 francos. 
2 ° Mercadorias fabricadas (confeccionadas) pela Sociedade de 13 de agosto de 1869 a 31 de março de 1870 
............................................... 7.930,70. 
3 ° Mercadorias variadas adquiridas durante o mesmo período
............................................... 4.665,42. 
4 ° Mercadorias depositadas na livraria
............................................... 1.876.  
Total ......................................... 25.472,12 francos”. 

Esta parte do relatório merece um aprofundamento, pois o registro contábil dos custos das mercadorias (impressão e publicação ou aquisição de obras) traz informações importantes para o nosso estudo, nos permitindo verificar que: (a) a SA declara que confeccionou mercadorias somente a partir de 13/08/1869 e desta data até 31/03/1870, o valor foi de 7.930,70 francos. (b) Amélie Boudet trouxe mercadorias no valor de 11.000 francos (provavelmente as obras de Kardec confeccionados antes de 13/08/1869) para compor o estoque da SA.


Dentre as edições impressas e publicadas antes de 13/08/1869, destacamos:

o A 4ª edição de Céu e o Inferno: impressa em fevereiro de 1869, vendida a partir de 1º de junho e com Declaração de Impressão de 09/07/1869, conforme imagem cedida gentilmente pelo colega Charles Kempf.


o A 5ª edição de A Gênese, que, em nossa hipótese corroborada pelas fontes primárias que apresentamos até o momento, teve a Declaração de Impressão solicitada em fevereiro de 1869 e publicação provavelmente entre abril e maio de 1869 (Vide artigo no JEE).


Desta forma, o relatório sugere que NENHUMA destas edições foi confeccionada pela Sociedade Anônima, e sim pela Livraria Espírita, enquanto esta ainda era de propriedade da família Kardec (Veremos em um futuro post que a Livraria, enquanto patrimônio, foi usada para integralizar o capital social de Amélie na fundação da SA).


C. Relativas ao foco na propagação da Doutrina, no desinteresse pessoal e interesse geral do Espiritismo:


“[No quadro], nos valores de 11.553,92 francos, creditado na conta de ganhos e perdas, constam os lucros da Livraria Espírita com a soma de 3.212,74 francos. Este número de 3.212,74 francos aumentará em proporção significativa, no dia em que os espíritas da França e da Argélia não terão mais medo de se mostrar, e que todos saberão que a Sociedade Anônima não foi criada com um interesse particular, mas no interesse geral do Espiritismo; assim, querendo ter maior participação na construção do edifício, irão diretamente à Livraria Espírita para adquirir livros de toda espécie; para isso, será necessário que nossa Sociedade, além de enviar livros gratuitamente, possa arcar com os custos de postagem e envio de dinheiro; É no aumento do faturamento, que essa combinação pode proporcionar uma solução favorável. Para o estrangeiro, a coisa será menos fácil em virtude da existência de custos consideráveis dos direitos de postagem com certos países; mas, se os pedidos diretos à livraria se tornassem generalizados, seria justo permitir que os espíritas estrangeiros se beneficiassem dos custos de postagem até a saída da França. Portanto, esperemos que, em um futuro próximo, enquanto os adeptos estejam perfeitamente erigidos no propósito e no sucesso da Sociedade, à medida que os negócios se expandem, a administração da sua Sociedade poderá enviar um projeto neste sentido para aprovação.”

Este trecho do relatório mostra a preocupação dos auditores de fiscalização e os seus desejos de que todos entendessem que a Sociedade Anônima não havia sido criada para atender interesses particulares. Ou seja, na percepção de Amélie Boudet, ela e os demais fundadores criaram a Sociedade Anônima no interesse geral do Espiritismo, e ela desejava declarar publicamente para que todos pudessem compartilhar dessa percepção junto com o crescimento da SA.


“A administração da Sociedade propôs pedir-lhes que reduzisse o preço das próximas reimpressões do Livro dos Espíritos e do Evangelho segundo o Espiritismo, quando a nova lei do selo votada pelo Legislativo em sua sessão de 15 de junho de 1870, veio a obstar a esse projeto, em decorrência do aumento dos direitos de postagem sobre impressos, acréscimo para o dobro da atual que a referida lei traz, à partir de 1º de janeiro de 1871; de modo que o Livro dos Espíritos, que agora paga uma postagem de 45 centavos, passará a pagar 90 centavos, e o mesmo acontecerá com os outros livros da coleção. Perante este novo estado de coisas, pensamos que seria sensato adiar qualquer alteração no preço das obras acima mencionadas, até que possamos julgar que efeito o aumento nas taxas de postagem terá no faturamento geral do próximo ano fiscal. Em todo caso, a Revista manterá o mundo espírita informado sobre as melhorias que pareçam possíveis, sem prejudicar os recursos indispensáveis à boa administração da Sociedade.” 

Em conformidade com o desejo manifestado na criação da SA de que as obras de Kardec fossem vendidas a preços mais acessíveis, a administração havia solicitado uma redução no preço de comercialização das obras “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho segundo o Espiritismo”, e face aos novos custos de postagens, aumentados recentemente pelo governo, os auditores concordam que seria melhor adiar esta redução. Vemos aqui o comprometimento dos administradores em tentar reduzir o valor das obras para que estas atingissem um maior público, sem – no entanto – comprometer a saúde financeira da instituição recém-criada. Esse é um pensamento totalmente alinhado com os de Allan Kardec em viabilizar por preços acessíveis as obras do Espiritismo, reforçado pelo demonstrado preparo de Amélie Boudet em contribuir para a viabilização financeira da SA, com podemos observar em seus pensamentos gerenciais presentes nas suas análises.


 “Por fim, vocês notarão que, em decorrência de diversas subscrições, nosso fundo de reserva totalizava, em 31 de março, o montante de 4.235,30 francos; que pelos lucros resultantes do presente exercício, este fundo não só está intacto, mas também aumentou consideravelmente; que se não tivéssemos que reembolsar aos representantes de um de nossos colegas falecidos, uma soma de 5.000 francos, sugeriríamos que alocassem parte desse fundo aos interesses gerais da doutrina, mas nestas circunstâncias, embora tenhamos tempo para nos liberar, não seria nem previdente nem sábio tocá-lo, especialmente na presença do aumento considerável dos custos de postagem de que falamos acima; de todo modo, devemos estar felizes por não termos sido obrigados a recorrer a este valor para fazer face às despesas correntes da Sociedade e poder, a partir de hoje, nos prepararmos para as eventualidades decorrentes da morte de um de nossos colegas; sobre este assunto devemos, portanto, expressar nossa gratidão, em nome da doutrina, aos irmãos nossos que, por meio de suas assinaturas, contribuíram para realizar esta situação material confortável.” 

Vemos, novamente, a preocupação dos auditores de fiscalização com o bom andamento financeiro da nova Sociedade, pois o fundo de reserva se mantém intacto, ou melhor, aumentado, mostrando as boas práticas de gestão efetuadas por seus administradores. Os auditores pretendiam sugerir que parte deste fundo fosse revertida para os interesses gerais da doutrina, mas observaram que isto não seria prudente face aos aumentos dos custos de postagem e ao desembolso imprevisto para fazer face ao ressarcimento à família pela morte de um dos sócios fundadores.


“O seu Conselho Fiscal reconhecendo a oportunidade para a doutrina e a atividade trazida pela administração nas operações da Sociedade. Considerando que a mais estrita economia prevaleceu nas despesas correntes e instalação, Propõem : 1 ° Aprovar pura e simplesmente o inventário e o balanço anexos, na medida em que são resultantes das contas apresentadas pela vossa administração para o exercício de 1869-1870; 2 ° Reconhecer que o valor do lucro líquido, do referido exercício, monta o valor de 2.263,44 francos; 3 ° Ordene a repartição do referido montante, de acordo com os fundamentos fixados no artigo 27 dos nossos estatutos.”

Este trecho do relatório deixa clara a total aprovação – pelos fiscais – dos caminhos percorridos pelos administradores na gestão da Sociedade Anônima. Amélie Boudet reconhece que os esforços e objetivos em prol da doutrina estão sendo feitos. Vale destacar que, conforme informamos na Parte I deste post, os acionistas e os administradores da Sociedade Anônima decidiram reverter suas partes nos lucros para o fundo de reserva, de forma que a repartição dos montantes prevista no artigo 27 não ocorreu de fato, reafirmando o comprometimento de todos com os objetivos da Sociedade Anônima: a divulgação da Doutrina Espírita.


Conclusão


Essa parte II da nossa análise entra nos meandros do Relatório e nos permite observar que:


Amélie Boudet e A. Gilbert, enquanto fiscais (1) possuíam conhecimento na área contábil e análise de balanços, o que permitiu um exame minucioso das operações da SA, entrando no mérito de cada diferença identificada e confirmando que os registros estavam corretos, (2) tinham preparo para colaborar na viabilização financeira da SA, alinhando pensamentos gerenciais em suas análises: o melhor uso dos fundos de reserva no cenário atual e futuro, a prudência em não reduzir o preço das obras face ao aumento imprevisto dos custos, e (3) tinham uma visão clara do objetivo da criação da Sociedade Anônima, não com interesse particular, mas no interesse geral do Espiritismo


Porque isso é importante? Alguns podem pensar que essa atitude seria visando lucro e benefício pessoal, porém não há instituição sem fins lucrativos que se preserve ativa e prestando seus serviços se financeiramente ela não se sustentar sozinha. Era necessário, portanto, a constituição de uma base sólida, com a formação do fundo de reserva, qualidade e transparência nos registros e divulgação adequada aos espíritas.

A 5ª edição de A Gênese e a 4ª edição de O Céu e o Inferno NÃO FORAM confeccionadas pela Sociedade Anônima, visto que esta instituição registrou que só começou a produzir mercadorias a partir de 13 de agosto de 1869. Amélie Boudet, como responsável pela publicação das obras do marido após sua morte, provavelmente levou os exemplares não vendidos destas edições produzidas por ela para compor o estoque da SA.

Publicaremos em breve um post com a Parte III da Pesquisa, para complementarmos a análise deste documento.


Esta pesquisa foi realizada em conjunto pelo museu AKOL - AllanKardec.online, o CSI do Espiritismo e o site www.ObrasdeKardec.com.br, sempre se desenvolvendo de forma colaborativa e sem personalismos.



Tradução do documento completo



Referências

1. https://www.facebook.com/allankardec.online/posts/191193512494540 e https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/834545617309222;

2. https://www.retronews.fr/.../1-aout-1870/1829/3285373/6;

3. LES SOCIÉTÉS - En Commandite par Actions, Anonymes et Coopératives - Par J. Bédarride - Tome Deuxième - https://odyssee.univ-amu.fr/.../RES-22980_Bedarride_Loi...;

4. Revistas Espíritas de 1869 e 1870;

5. https://catalogue.bsg.univ-paris3.fr/.../alma991013912770...

6. https://archive.org/details/BSG_DELTA59512_1FA/mode/2up;

7. https://www.allankardec.online/search?q=rapport.




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